TOURO MORTO (MS) — Uma tragédia chocou a região pantaneira de Aquidauana, a cerca de 230 km de Campo Grande, nesta semana. O caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi brutalmente atacado e morto por uma onça-pintada enquanto realizava atividades de rotina em um pesqueiro na área conhecida como Touro Morto. O caso, confirmado pela Polícia Militar Ambiental, levanta novamente o alerta sobre os riscos da convivência próxima entre humanos e grandes felinos no bioma do Pantanal.
Segundo relatos de testemunhas, Jorge havia saído para coletar mel em um deck próximo à vegetação nativa, quando desapareceu. No dia seguinte, um guia de pesca que chegava ao rancho notou a ausência do caseiro e, ao investigar o entorno, encontrou manchas de sangue e rastros de uma onça. A PMA foi acionada, e as buscas levaram à descoberta de restos mortais a cerca de 280 metros da casa onde a vítima vivia. Marcas no local indicam que o corpo foi arrastado por cerca de 50 metros.
Imagens de segurança captadas dias antes do ataque mostram a presença da onça rondando o rancho. Em um vídeo que circula nas redes sociais, um amigo da vítima, ao identificar pegadas, alerta de forma profética: “A onça vai comer o Jorge. Olha a unha dela”. O próprio Jorge, de forma tranquila, responde: “Não, não come não”.
A tragédia não terminou aí. Após o ataque, o felino retornou à propriedade, invadindo uma área onde peixes são limpos, o que aumentou ainda mais o clima de tensão entre moradores e funcionários da região. Autoridades ambientais agora tentam capturar o animal, que será encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande, para análise comportamental e medidas de segurança.
Risco crescente com a perda do medo humano
Especialistas alertam que o ataque pode estar relacionado a uma série de fatores, incluindo escassez de alimento, comportamento territorial e até o período reprodutivo da espécie. Contudo, chama atenção a possível influência de práticas irregulares de “ceva” — quando moradores ou turistas oferecem alimentos a animais selvagens para atraí-los e facilitar sua visualização. A prática, embora comum em algumas áreas turísticas, é condenada por biólogos e conservacionistas por diminuir o instinto de autopreservação dos animais, que passam a enxergar humanos como fontes de alimento, e não como ameaça.
“Esse tipo de evento é raro, mas quando ocorre, nos mostra a linha tênue entre a natureza selvagem e as atividades humanas nas regiões de fronteira ecológica”, explica um biólogo da PMA, que participa das buscas.
A morte de Jorge Avalo comoveu familiares, amigos e moradores da comunidade local, que agora cobram medidas mais firmes das autoridades para evitar novos casos semelhantes. Entre as propostas estão a instalação de cercas protetoras em áreas de risco, sinalização informativa sobre presença de grandes felinos e campanhas educativas para evitar interações indevidas com a fauna silvestre.
O caso segue sob investigação das autoridades ambientais e policiais. Enquanto isso, a região de Touro Morto permanece em estado de alerta, e o debate sobre como equilibrar conservação ambiental e segurança humana volta ao centro das discussões no coração do Pantanal brasileiro.
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