Membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará, Leota (era assim que gostava de ser chamado), “cresci nas banhas e encurtei no nome.” Era um nome requisitado para proferir palestras para platéias de estudiosos e interessados folcloristas. Era também um animador de rodas de amigos e intelectuais da antiga praça do Ferreira (coração da cidade de Fortaleza), para essa platéia declamava versos e contava histórias e pequenas anedotas.
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Cantadores (1921) |
“Fui um intransigente na defesa do sertão esquecido, do sertão caluniado e só lembrado quando dele se quer o imposto nos tempos de paz ou o soldado nos tempos de guerra. E fui sobretudo, contra o labéu de cretinice do sertanejo nordestino que orientei a minha documentada contradita: em todo o meu “Cantadores” e nas conferências que proferi, de Norte a Sul, pus o melhor dos meus empenhos em fazer ressaltar a acuidade, a destreza de esperíto, a vivacidade da desaproveitada inteligência sertaneja, de que os menestréis plebeus são a expressão bizarra e esquecida, apesar de digna de estudos.”
O “último boêmio do Ceará” ou “judeu errante do folclore nacional”, como se intitulava, publicou: “Cantadores” (1921), “Violeiros do Norte” (1925), “Sertão Alegre” (1928), “No Tempo de Lampião” (1930), “Prosa Vadia” (1932) e “Padaria Espiritual” (1938). “Adagiário Brasileiro” foram reconstituídos pacientemente por seu filhos Moacir e Orlando Mota e publicados anos depois.
Em sua terra natal Pedra Branca, existe uma biblioteca em sua homenagem e um monumento na praça que também leva seu nome, em frente ao local onde existiu a casa onde o “Princípe dos folcloristas brasileiro” nasceu um dia. No dia 20 de fevereiro de 1952, por iniciativa do Intituto do Ceará, foi batizada com o nome do escritor uma rua de Fortaleza.
Leonardo Mota, taquígrafo
Folclorista dos maiores que já tivemos, era taquígrafo. Usou a taquigrafia para recolher tudo que podia do nosso folclore.
Leonardo Mota conseguiu registrar, pela taquigrafia, muitos dos improvisos de Sinfrônio, afamado cantador-violeiro cego do Ceará, inclusive algumas disputas entre ele e outros cantadores célebres do interior cearense e nordestino.
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Leonardo Mota e os cantadores Jacó Passarinho e Cego Aderaldo |
Cantadores (1921), Violeiros do Norte (1925), Sertão alegre (1928), No tempo de Lampião (1930), Prosa vadia (1932) e muitos artigos publicados na imprensa fazem parte do acervo literário de Leonardo Mota.
No livro “Adagiário Brasileiro”, coletânea de frases colhidas pelo Brasil afora por LM, assim o descrevem Moacir Mota e Orlando Mota, filhos do folclorista: “Em anos seguidos de intermináveis e exaustivas andanças, cruzou e recruzou o Brasil, vendo, ouvindo, observando e anotando, atento a todas as manifestações da alma popular. Fez obra de autêntico bandeirismo nacionalista.”
Leonardo Mota nasceu no dia 10 de maio de 1891, um domingo, às 7 horas da manhã, na vila de Pedra Branca, Ceará. Morreu no dia 2 de janeiro de 1948, em Fortaleza, na sua residência, de um colapso cardíaco.
O legado de Leonardo Mota é tão rico, que assim recomenda Luís da Câmara Cascudo (outro grande folclorista) a Orlando Mota, filho de Leonardo:
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Leonardo Mota e Anselmo Vieira |
“Não mexe em nada do que o teu pai escreveu. Orlando, Orlando… O que o Leota fez está feito e é sagrado.”
“Em 1921, Leonardo Mota é recebido por Rui Barbosa, que o ouve longamente sobre os seus estudos folclóricos, e para quem Leonardo Mota recita versos e conta anedotas sertanejas. Também o Presidente da República, Epitácio Pessoa, o recebe na intimidade do seu lar, ao lado da família e de amigos. Leonardo Mota fala sobre poesia e linguagem do sertão do Ceará.” (Adagiário Brasileiro, pág. 33)
“Em 1924, faz outra viagem aos sertões caririenses em busca de material folclórico e pronunciando conferências. Visita desta vez o Crato, Juazeiro, Barbalha, Ingazeiras, Missão Velha, Senador Pompeu, Aurora…”
“Nasci para viver de lápis em punho, a registrar as inconfundíveis maneiras de falar dos sertanejos de meu país”, explicava-se “Leota”, como o chamavam os amigos e como ele assinava os seus artigos no Correio do Ceará.
“Violeiros do Norte”, um de seus livros, foi premiado pela Academia Brasileira de Letras, o que garantiria a Mota o título de “Embaixador do Sertão”.
Pedra Branca
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Foto Vando Carlos |
Hoje o monumento que homenageia o Ilustre filho desta terra se encontra depredado, graças a ações de vândalos, e a má conservação.