Além da Galinha Choca: monólitos de Quixadá formam
‘zoológico de pedra’
Fotógrafo
catalogou série de imagens de animais encravados nas rochas do Sertão Central
do Ceará. ‘Quero mostrar que Quixadá não tem só a Galinha Choca.’
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Monólito mais conhecido de Quixadá, a Pedra da Galinha Choca fica no entorno do Cedro, o primeiro açude construído no Brasil, entre 1890 a 1906 (Foto: Cid Barbosa/Diário do Nordeste) |
Algumas pessoas
veem animais nas nuvens. Francisco Alves Leite os vê nas pedras. E em Quixadá,
onde vive o fotógrafo, há material de sobra para a atividade. A Pedra da
Galinha Choca, o monólito mais ilustre do sertão cearense, é conhecida em
âmbito nacional pela semelhança com a ave que lhe dá o nome. O que muita gente
não sabe é que as rochas de Quixadá abrigam muitos outros animais. (confira abaixo fotos dos
“animais”)
veem animais nas nuvens. Francisco Alves Leite os vê nas pedras. E em Quixadá,
onde vive o fotógrafo, há material de sobra para a atividade. A Pedra da
Galinha Choca, o monólito mais ilustre do sertão cearense, é conhecida em
âmbito nacional pela semelhança com a ave que lhe dá o nome. O que muita gente
não sabe é que as rochas de Quixadá abrigam muitos outros animais. (confira abaixo fotos dos
“animais”)
Há um ano
Francisco Alves, que prefere se identificar como Chico Javali, começou a procurar
e catalogar formas de animais nos monólitos no sertão cearense. “A ideia
era fazer uma revista ou um livro contando sobre esses formatos de pedra. Eu
imagino um zoológico de pedra. O objetivo é mostrar que Quixadá não tem só a
Galinha Choca, tem outros animais nas pedras”, conta.
Francisco Alves, que prefere se identificar como Chico Javali, começou a procurar
e catalogar formas de animais nos monólitos no sertão cearense. “A ideia
era fazer uma revista ou um livro contando sobre esses formatos de pedra. Eu
imagino um zoológico de pedra. O objetivo é mostrar que Quixadá não tem só a
Galinha Choca, tem outros animais nas pedras”, conta.
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Pedra da Foca (Foto: Chico Javali/Arquivo pessoal) |
As formas foram
localizadas quando ele andava pela zona rural de Quixadá para fotografar,
profissão que exerce há 20 anos.
localizadas quando ele andava pela zona rural de Quixadá para fotografar,
profissão que exerce há 20 anos.
“Gosto
muito de fotografar a natureza, sou fotógrafo há mais de 20 anos e eu começava
a visualizar aquelas pedras com aqueles formatos de animais. Aí eu localizava a
pedra, catalogava, com várias semanas fui juntando e organizando as
imagens.”
muito de fotografar a natureza, sou fotógrafo há mais de 20 anos e eu começava
a visualizar aquelas pedras com aqueles formatos de animais. Aí eu localizava a
pedra, catalogava, com várias semanas fui juntando e organizando as
imagens.”
Conforme o
geólogo de Quixadá Ita Ventura, as pedras do município ganham diversas formas
porque são mais frágeis que a maioria das rochas e são moldadas pela ação do
tempo. “O monólito tem a biotita em 35% da sua composição, o que torna ele
mais frágil e mais fácil de ser esculpido pela erosão, com os efeitos da chuva,
sol, temperatura, ventos. Mesmo sendo mais flexíveis, esse processo leva
milhões de anos.”
geólogo de Quixadá Ita Ventura, as pedras do município ganham diversas formas
porque são mais frágeis que a maioria das rochas e são moldadas pela ação do
tempo. “O monólito tem a biotita em 35% da sua composição, o que torna ele
mais frágil e mais fácil de ser esculpido pela erosão, com os efeitos da chuva,
sol, temperatura, ventos. Mesmo sendo mais flexíveis, esse processo leva
milhões de anos.”
Pareidolia, a visão de coisas nas nuvens
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Pedra do Leão (Foto: Chico Javali) |
A identificação de animais e outras coisas
nas nuvens, rochas ou poças d’água está associada a um fenômeno evolutivo que
facilita o reconhecimento de padrões, de acordo com o físico Alberto Calabrez.
O fenômeno tem o nome técnico de pareidolia, a associação de formas aleatórias
com objetos conhecidos.
nas nuvens, rochas ou poças d’água está associada a um fenômeno evolutivo que
facilita o reconhecimento de padrões, de acordo com o físico Alberto Calabrez.
O fenômeno tem o nome técnico de pareidolia, a associação de formas aleatórias
com objetos conhecidos.
“Esse tipo de associação
é bem antiga. Alguns dos registros mais antigos que temos disso são as
constelações. Nossos antepassados viam touros, ursos, leões, animais
fantásticos e uma infinidade de objetos na disposição das estrelas”,
explica.
é bem antiga. Alguns dos registros mais antigos que temos disso são as
constelações. Nossos antepassados viam touros, ursos, leões, animais
fantásticos e uma infinidade de objetos na disposição das estrelas”,
explica.
Ainda segundo Calabrez, de
forma ainda não explicada pela ciência, algumas pessoas têm mais facilidade
para identificar formas nas pedras ou nuvens. “Talvez o Chico Javali seja
uma dessas pessoas”, diz, ao avaliar as fotografias do profissional.
forma ainda não explicada pela ciência, algumas pessoas têm mais facilidade
para identificar formas nas pedras ou nuvens. “Talvez o Chico Javali seja
uma dessas pessoas”, diz, ao avaliar as fotografias do profissional.
Esse mesmo fenômeno da
pareidolia fez com que muita gente visse um dinossauro
ou um monstro na imagem de um furacão divulgado pela Nasa em 2016 ou a imagem
de Jesus em uma torrada.
pareidolia fez com que muita gente visse um dinossauro
ou um monstro na imagem de um furacão divulgado pela Nasa em 2016 ou a imagem
de Jesus em uma torrada.
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Pedra da Baleia (Foto: Chico Javali) |
Preservação do parque de pedra
O geólogo Ita Ventura alerta também para a
necessidade de preservação do parque rochoso de Quixadá. O sítio é tombado pelo
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido
como uma das 24 paisagens mais bonitas do mundo pela Associação Internacional
de Montanhas Famosas.
necessidade de preservação do parque rochoso de Quixadá. O sítio é tombado pelo
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido
como uma das 24 paisagens mais bonitas do mundo pela Associação Internacional
de Montanhas Famosas.
Além das formas naturais, os
monólitos do Sertão Central cearense registram imagens rupestres de povos
indígenas que viveram na região há vários séculos.
monólitos do Sertão Central cearense registram imagens rupestres de povos
indígenas que viveram na região há vários séculos.
Quem passeia pelas ruas de
Quixadá pode avistar construções e ruas em meio às rochas, mas todas
construções antigas. Após o tombamento, ficou proibido a construção de
estruturas a menos de 50 metros dos monólitos.
Quixadá pode avistar construções e ruas em meio às rochas, mas todas
construções antigas. Após o tombamento, ficou proibido a construção de
estruturas a menos de 50 metros dos monólitos.
A cidade também não pode ter
prédios com mais de três andares para que a visão das rochas não seja impedida.
prédios com mais de três andares para que a visão das rochas não seja impedida.
“É necessário se
conscientizar de que é preciso preservar os monólitos. Uma cidade com esse tipo
de paisagem, preenchida pelas rochas, é bastante incomum, então temos que
manter a paisagem natural que garante a beleza natural da nossa região”,
relata Ventura.
conscientizar de que é preciso preservar os monólitos. Uma cidade com esse tipo
de paisagem, preenchida pelas rochas, é bastante incomum, então temos que
manter a paisagem natural que garante a beleza natural da nossa região”,
relata Ventura.
Além da paisagem, o geólogo
lembra que os monólitos salvaram o periquito cara-suja da extinção. “Hoje
esse pássaro é restrito a uma região do Ceará. Antes eles viviam em vários
países, mas sobreviveram apenas nos monólitos, que são regiões de difícil
acesso e eles se abrigaram lá. Por isso a necessidade da preservação desse
espaço.”
lembra que os monólitos salvaram o periquito cara-suja da extinção. “Hoje
esse pássaro é restrito a uma região do Ceará. Antes eles viviam em vários
países, mas sobreviveram apenas nos monólitos, que são regiões de difícil
acesso e eles se abrigaram lá. Por isso a necessidade da preservação desse
espaço.”