Molde em acrílico dos crânios das siamesas foi desenvolvido nos Estados Unidos a pedido da equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (Foto: Chico Escolano/EPTV) |
Hospital das
Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP) se prepara para um dos procedimentos
mais audaciosos que já realizou: a separação de gêmeas siamesas unidas pela
cabeça. As irmãs de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), têm 1 ano e seis meses,
e serão submetidas a quatro cirurgias ao longo de um ano.
Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP) se prepara para um dos procedimentos
mais audaciosos que já realizou: a separação de gêmeas siamesas unidas pela
cabeça. As irmãs de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), têm 1 ano e seis meses,
e serão submetidas a quatro cirurgias ao longo de um ano.
A família foi
orientada a não se pronunciar sobre o caso. O HC-RP também não informa detalhes
sobre as pacientes. Chefe da equipe médica, o neurocirurgião Hélio Rubens
Machado contou apenas que elas têm boa saúde e se desenvolvem de acordo com a
idade.
orientada a não se pronunciar sobre o caso. O HC-RP também não informa detalhes
sobre as pacientes. Chefe da equipe médica, o neurocirurgião Hélio Rubens
Machado contou apenas que elas têm boa saúde e se desenvolvem de acordo com a
idade.
As gêmeas estão
realizando exames há um ano. Os médicos precisavam ter certeza da viabilidade
da operação e, logo nos primeiros testes, foi possível constatar que os
cérebros são separados, assim como as artérias, que levam o sangue do coração
para a cabeça.
realizando exames há um ano. Os médicos precisavam ter certeza da viabilidade
da operação e, logo nos primeiros testes, foi possível constatar que os
cérebros são separados, assim como as artérias, que levam o sangue do coração
para a cabeça.
A partir daí,
com apoio de uma equipe norte-americana, os crânios e os cérebros das siamesas
foram reconstruídos em um molde tridimensional em acrílico, que contém detalhes
de veias e artérias para todo o planejamento das cirurgias.
com apoio de uma equipe norte-americana, os crânios e os cérebros das siamesas
foram reconstruídos em um molde tridimensional em acrílico, que contém detalhes
de veias e artérias para todo o planejamento das cirurgias.
“O cérebro tem uma capacidade que a gente chama de neuroplasticidade, de
se recuperar depois de traumas, doenças, etc. Desde que a gente atue o mais
precocemente possível e reabilite essas crianças, elas têm grande chance de ter
um bom desenvolvimento futuro”, disse.
se recuperar depois de traumas, doenças, etc. Desde que a gente atue o mais
precocemente possível e reabilite essas crianças, elas têm grande chance de ter
um bom desenvolvimento futuro”, disse.
Professor de
neurorradiologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP),
Antônio Carlos dos Santos afirmou que as gêmeas foram submetidas a ressonância
magnética e até a um cateterismo, para que o sistema vascular fosse
reconstruído no molde 3D.
neurorradiologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP),
Antônio Carlos dos Santos afirmou que as gêmeas foram submetidas a ressonância
magnética e até a um cateterismo, para que o sistema vascular fosse
reconstruído no molde 3D.
“O óbvio é que
parte do crânio é comum, parte da pele é comum, parte do couro cabeludo é
comum. Agora, o cérebro, felizmente, é bem dividido, cada um tem o seu, embora
estejam muito próximos e algumas partes entrelaçadas. Mas, são
individualizados”, afirmou.
parte do crânio é comum, parte da pele é comum, parte do couro cabeludo é
comum. Agora, o cérebro, felizmente, é bem dividido, cada um tem o seu, embora
estejam muito próximos e algumas partes entrelaçadas. Mas, são
individualizados”, afirmou.
O chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do HC-RP, Jayme Farina Junior, e o neurocirurgião Hélio Rubens Machado, que comanda a equipe (Foto: Chico Escolano/EPTV) |
Complexidade
Cerca de 30
profissionais estão envolvidos no caso, entre neurocirurgiões, neurologistas,
anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas, enfermeiros, entre outros.
Referência nesse tipo de cirurgia, o médico James Goodrich, do Montefiore
Medical Center de Nova Iorque, que já realizou 20 cirurgias desse tipo com
sucesso, também integra a equipe.
profissionais estão envolvidos no caso, entre neurocirurgiões, neurologistas,
anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas, enfermeiros, entre outros.
Referência nesse tipo de cirurgia, o médico James Goodrich, do Montefiore
Medical Center de Nova Iorque, que já realizou 20 cirurgias desse tipo com
sucesso, também integra a equipe.
A primeira
operação está marcada para 17 de fevereiro. Ao todo, serão feitas quatro
cirurgias, com intervalo de dois meses entre elas. Em cada etapa, os médicos
vão abrir uma parte diferente do crânio para separar os vasos sanguíneos que
estão interligados.
operação está marcada para 17 de fevereiro. Ao todo, serão feitas quatro
cirurgias, com intervalo de dois meses entre elas. Em cada etapa, os médicos
vão abrir uma parte diferente do crânio para separar os vasos sanguíneos que
estão interligados.
“Essas veias
são um entrave porque elas são capazes de passar de uma para a outra. Mas,
também, os cérebros das duas estão próximos um do outro, bem rente e
entremeado, e eles têm que ser separados. As três primeiras fases vão ser muito
semelhantes”, explicou Machado.
são um entrave porque elas são capazes de passar de uma para a outra. Mas,
também, os cérebros das duas estão próximos um do outro, bem rente e
entremeado, e eles têm que ser separados. As três primeiras fases vão ser muito
semelhantes”, explicou Machado.
Na última
operação haverá a separação total das irmãs. O chefe da Divisão de Cirurgia Plástica
da FMRP, Jayme Farina Junior, explicou que a última etapa será a mais complexa
porque envolverá a reconstrução do crânio, uma vez que as gêmeas são unidas
pelo topo da cabeça.
operação haverá a separação total das irmãs. O chefe da Divisão de Cirurgia Plástica
da FMRP, Jayme Farina Junior, explicou que a última etapa será a mais complexa
porque envolverá a reconstrução do crânio, uma vez que as gêmeas são unidas
pelo topo da cabeça.
“Na cirurgia final, o maior desafio é fecharmos a parte superior do
crânio, porque vai haver uma falha. Você imagina que, quando abre no meio, fica
a parte superior aberta para as duas crianças. Por isso, tem que haver esse
preparo com o planejamento tridimensional”, disse.
crânio, porque vai haver uma falha. Você imagina que, quando abre no meio, fica
a parte superior aberta para as duas crianças. Por isso, tem que haver esse
preparo com o planejamento tridimensional”, disse.
Farina Junior afirmou que o couro cabeludo da região occipital
– em cima da nuca – será implantado na parte superior da cabeça. A área que
ficará sem a pele receberá enxertos retirados de outras partes do corpo.
– em cima da nuca – será implantado na parte superior da cabeça. A área que
ficará sem a pele receberá enxertos retirados de outras partes do corpo.
“A última [cirurgia] é a mais
complexa, a mais demorada. Nós temos que idealizar de onde vamos tirar esses
retalhos para fechamento da parte superior da cabeça. É um grande desafio, mas,
ao mesmo tempo, gera um grande entusiasmo em toda a equipe”, afirmou.
complexa, a mais demorada. Nós temos que idealizar de onde vamos tirar esses
retalhos para fechamento da parte superior da cabeça. É um grande desafio, mas,
ao mesmo tempo, gera um grande entusiasmo em toda a equipe”, afirmou.
Infraestrutura
Diretor do
Departamento de Atenção à Saúde do Hospital das Clínicas, o médico Antônio
Pazin Filho afirmou que o procedimento é estimado em US$ 2,5 milhões na rede
particular nos Estados Unidos, mas será realizado no Brasil por cerca de R$ 100
mil, custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Departamento de Atenção à Saúde do Hospital das Clínicas, o médico Antônio
Pazin Filho afirmou que o procedimento é estimado em US$ 2,5 milhões na rede
particular nos Estados Unidos, mas será realizado no Brasil por cerca de R$ 100
mil, custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“É uma cirurgia que no exterior tem
um custo extremamente elevado e a gente está fazendo tudo pelo SUS, coberto
pela secretaria do Estado de origem, e a contrapartida muito importante das
duas instituições, tanto da faculdade, que está fomentando todo o transporte
para esse pessoal que vem de fora, como todo o material que a gente vai
precisar”, disse.
um custo extremamente elevado e a gente está fazendo tudo pelo SUS, coberto
pela secretaria do Estado de origem, e a contrapartida muito importante das
duas instituições, tanto da faculdade, que está fomentando todo o transporte
para esse pessoal que vem de fora, como todo o material que a gente vai
precisar”, disse.
Segundo Pazin Filho, a separação das
siamesas exigirá medidas extraordinárias, como a abertura do hospital em
horário diferenciado, para evitar o fluxo de pacientes e de profissionais que
não compõem a equipe envolvida.
siamesas exigirá medidas extraordinárias, como a abertura do hospital em
horário diferenciado, para evitar o fluxo de pacientes e de profissionais que
não compõem a equipe envolvida.
“É uma experiência que está sendo muito útil para o corpo
clínico aprender a lidar com desafios novos e, um dos nossos objetivos, como
hospital terciário, e como hospital de ensino, é exatamente proporcionar o
desenvolvimento desses novos tipos de situação”, afirmou.
clínico aprender a lidar com desafios novos e, um dos nossos objetivos, como
hospital terciário, e como hospital de ensino, é exatamente proporcionar o
desenvolvimento desses novos tipos de situação”, afirmou.
G1/EPTV